Grande parte do que hoje acontece deve ser creditado à nossa letargia política; não nos preocupamos muito com quem elegemos. Primeiro, votamos sem muito pensar; depois, não nos preocupamos em acompanhar o que nossos eleitos fazem. E o que hoje fazem muitos deles está completamente em desacordo com a ética e a lei ou a legitimidade. E por nós não nos preocuparmos com isso, ou com o que os eleitos fazem, estes passam a legislar, a legitimar ações e procedimentos em favor deles mesmos. E, mesmo aquele que poderia ser um “bom político” acaba por se valer desses privilégios, até para não “cair no ridículo” diante dos outros.
Inverteram-se, também, neste país, as funções principais dos três poderes: O Legislativo já não mais legisla, ou o faz precariamente, a não ser quando é em favor próprio; O Executivo “lança” medidas provisórias ( MP), como se fossem leis, antes de serem aprovadas pelo Congresso : O Executivo, portanto, acaba legislando, servindo ao Legislativo ( e ele se presta a tal) como mero “aprovador” de medidas que o Executivo quer que sejam aprovadas, servindo isso para toda espécie de manipulação; o Judiciário acaba, muitas vezes fazendo aquilo que o Legislativo e o Executivo não fazem, e o fazem por não haver regulamentação, que deveria ser papel do Legislativo.
Associa-se tudo isso a um monte de gente eleita, sem ter um mínimo de compromisso com o povo em geral, e temos a situação que encontramos. Como as facilidades são muitas e como a tendência humana é a de alguém trabalhar para si, depois para os outros, os políticos fazem o que estamos presenciando. As facilidades e a inversão dos papéis entre os Poderes levam à desfaçatez, à hipocrisia, ao desperdício, ao abandono das necessidades do país, para o trabalho em favor próprio, até porque “trabalhar com o dinheiro alheio é fácil”.
Só isso pode levar a declarações e ações tão absurdas, como as que vimos registrando nos últimos tempos. Ações como nomeações de parentes, viagens com dinheiro público, abandono da saúde e da educação, etc.etc; declarações como a do deputado Sérgio Moraes ” não estou nem me lixando para a opinião pública”, são frutos do descalabro a que chegamos.
Como mudar? Só posso dizer que uma ditadura não resolve; o que pode resolver é cuidarmos em quem votamos e, depois, acompanharmos e cobrarmos o trabalho dos nossos eleitos. Essas duas coisas fazemos muito mal, por enquanto, senão vejamos: todos sabemos que há políticos que roubaram, trabalharam apenas para si e suas famílias e nós os reelegemos. Muitos têm processo(s) abertos e, mesmo assim, se reelegem. De outro lado, até onde e quanto acompanhamos os eleitos? Sabemos, pelo menos, em quem votamos?